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Mostrando postagens de julho, 2010

O POETA E A POESIA

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Fui exposto Ao teu sofrer... Às tuas mãos a escrever... Com olhos cerrados Davas a existência às palavras... Eu não via o que miravas E tua mensagem, não compreendia ... Porém sentia A dor de tuas mãos A escrever Sem pausa... Sem descanso ... Sem perdão por si mesmo... Escrevias com os olhos cerrados E somente as palavras Sabiam o que tu miravas... Só elas Choravam tua melancolia Teu desespero Teu movimento incessante Eras a própria dor a escrever O próprio amor a sofrer... E, agora, sem perceber, sou eu O teu amor E tua dor... Composto Exposto Escrito Sou teu Poema Vivo ! Sou o cerne de todo o existir Sobre o papel E sob minha pele
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ESSE MAR QUE ME BANHA Esse mar Que me banha e me salga Não é mais só o meu... Vem de longe... Trazendo talvez uma lágrima Um sorriso... um poema... Vidas e segredos de alguma outra praia. Vem me banhar Da solidão despovoada das ilhas Da angústia das almas náufragas na vida Da mágoa da ostra por sua pérola ferida... Vem de longe De um passado anterior a mim Vem me banhar Da memória molhada do Tempo Vem me trazendo a vida Em suas ondas como quanta Buscando meu toque, meu olhar, Para a outras praias também me levar. Essa história imensa me abarca Um infinito clama por minha alma E meu sonho se desfaz em grão de areia... (IMAGENS GOOGLE)

A CRIANÇA E O CASULO

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Não chores, minha criança, Pelo mar que desmancha Teus passos pela praia... Não adianta querer demarcar Os contornos rígidos das caminhadas. A vida não se trilha com um mapa: Nela, a Verdade voa Com asas metamorfoseadas... Todos os percursos que trilhamos Acumulam areias revoltas No corpo íntimo do Tempo. Todos os percursos Nos conduzem, Indistintamente, Ao encontro dos nossos vesperais... Quando as realidades nítidas Se diluem Na centelha única Dos crepúsculos. Um dia, ao olhar para trás, Ao fim de tua jornada, verás Que de nós não sobra quase nada: Como anjos, Saímos crianças Da neblina arrastada do nosso despertar: Como vultos da manhã ... nascemos... Perseguindo o Sol Que nos transforma Pouco a pouco Em idades. Um dia, Como homens, Entramos na noite Que, de mãos dadas com o alvorecer, Nos aguarda Para novamente Qual anjos Nos receber. A vida é um simples sonho da Inexistência... Os dias são simpl

TELA DE ARAME

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TELA DE ARAME Da janela do meu quarto Vendo a chuva deslizar Pelas cercas do quintal, Encantei-me com as gotas Que presas ao arame Desciam devagar No zig-zag do traçado. Fiquei a pensar que algumas pessoas, Como pingos mais intensos, Se projetam logo aos seus destinos, Enquanto outras batalham tanto, Indo e vindo pelas telas dos seus dias. Reparei que as gotas em queda certeira Se perdem sem nitidez... Como um véu, desaparecem... Sem paisagem e nem vontade. Já as outras, bem mais raras, Traçam luzes prateadas Nas cercas que antes pareciam apenas Marcar limites da liberdade. Então fechei a janela descansada, Feliz por não ser dessa multidão tão apressada, Pois, ao invés de ir correndo ao fim dos rumos O que eu quero de verdade É encantar-me com as dificuldades Que me prendem junto às grades Que, às vezes, margeiam a felicidade.
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AS FLORES DA SAUDADE Em miúdos toque... Em suave aproximação... Pequeninas gotas repousam silenciosas Em minha janela. Tímidas, fazem-me convites E provocam despertares inconscientes. Chove bonito... Chove em paz... Lá fora, um brilho de verniz Emana da paisagem. A catedral, o rio, Os casarões adormecidos, Os morros floridos por árvores roxas... Tudo Resplandece. As flores da Quaresma E até mesmo os telhados velhos Cintilam úmidos Revestidos de súbita mocidade. Os sentimentos, as cores, a natureza, as flores, Às vezes, se combinam. Há flores que não comportam o peso das gotas, Vencidas... Trêmulas... Deixam escorrer por suas pontas Suas muitas águas acumuladas. As flores têm cor de saudade... A chuva tem luz de novas idades, E os meus olhos, comovidos, Se desmancham diante dessa fragilidade. Não sei se chove a chuva Ou se chove eu mesma. Há sentimentos que chegam também de mansinho. Chegam bonitos... Chegam em paz... Consola-me saber Que assim como as flores Despencam
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ALÉM DO HORIZONTE Ela quis ir à lagoa... Pisar areia Ver os barcos numa manhã clara de sol, árvores e sombras... E ali sentada contemplando a paisagem não sei bem que pensamentos lhe ocorriam nem em que devaneios partia e recuei com respeito para não ofender sua paz. Era um quadro delicado Na areia branca, na água mansa, nos barcos ancorados e até mesmo nela tudo era mágico etéreo harmônico suave... Assim passaram-se horas de um contemplar calado que eu nunca soube explicar... De súbito, como uma palavra que aprende a ser falada, Ela se ergueu, soltou as cordas de um barco como quem desfaz um mero laço. Despreendidamente, ele flutuou, lentamente, rumo ao canal ao encontro do mar. Na areia branca, a moça de branco via a vela branca se afastar... entre o infinito azul do mar entre o infinito azul do ar seguindo horizontes e algum segredo indescritível... Eu a vi em um disfarce lavar sua lágrima nas águas salgadas da lagoa como quem oferece à distância um fragmento perdido ou um elo indiv