NOITE DE WALPURGIS

 


NOITE DE WALPURGIS - e muitos dias insanos
Coincidências à parte, e não têm sido poucas, o autor alemão Goethe anda me circundando nos últimos meses, com seu Fausto e obras dele derivadas como ópera de Gounot e o ballet.
Fausto simboliza a ambição de toque humano no eterno e no mistério, enquanto o personagem assume a função de um mito modelo sobre a conduta humana, em cuja natureza intrínseca coexistem o sagrado e o profano em proporções equivalentes.
Além da literatura, Kant também me acomete. A corrente filosófica alude a um Sapere (conhecimento) de coragem de “servir-te da própria inteligência”. Em outras palavras, a coragem de Fausto, sob a visão filosófica, justifica-se pela ousadia de buscar o conhecimento do sentido da vida, razão pela qual não poderia ser condenado à danação dos infernos.
Neste conflito gerado entre Mefistófeles e Kant assisto ao ballet “A Noite de Walpurgis”, introduzido na ópera Fausto de Gounot. A parte da dança, que introduz o quinto ato, adquiriu força própria, passando a ser encenada independente da ópera. Foi o caso da atual apresentado no Teatro Municipal do Rio.
A Noite de Walpurgis, correspondente no folclore alemão e nórdico ao que se transformou em dia das bruxas, originariamente constitui-se numa celebração de primavera (colheita, alimento, vida, renovação), cuja origem advém dos rituais do paganismo, tendo sido, posteriormente, sincretizado com uma festa a Santa cristã Valpurga, uma abadessa do século VIII.
No ballet, sucedem-se sete danças: a dança das núbias, Cleópatra e o Cálice Dourado, Dança Antiga, Dança de Cleópatra e seus escravos, Dança das Donzelas Troianas, Dança do Espelho, Danse de Phryne. Apesar da estereotipia de malignidade, não há conflitos nas celebrações: apenas alegria, sedução, encantamento nos domínios de Pan, deidade da natureza, entre três outras bailarinas que representam as três Graças.
O movimento da dança associa-me ao movimento dos tempos e o que me sobra sem
graça no pensamento é a constatação de que a implantação das religiões abraâmicas, desde a Antiga Mesopotâmia, e a respectiva introdução do monoteísmo, por razões políticas e de dominação entre povos antigos - e atuais- trouxe ao mundo uma sucessão infinita de perseguições, tabus, proibições, mortes e guerras. Por necessidade de dominação sobre povos e terras e até sobre si mesmo, o monoteísmo se partiu em três grandes movimentos religiosos ( judeus, cristãos e muçulmanos) que se mataram uns aos outros ao longo dos séculos. Por ambições de dominação, e necessidade, para isto, de se opor em tempos remotos aos egípcios, gregos e romanos que imperavam bélica e culturalmente na época, as três grandes religiões monoteístas demonizaram o paganismo, o politeísmo e suas entidades da natureza, razão talvez pela qual hoje o planeta despreze os valores humanos e o meio ambiente e caminhe para extinção da vida. Exagero? Talvez. Volto a Kant e ao que o personagem demoníaco em Fausto possa simbolizar, de fato, da própria natureza humana: os jornais estão sempre lotados de cenas de infernos reais . O Mal é interior ao homem. Este ‘paraíso’ (tão prometido) resultante em guerras e destruições, seculares, dispenso. Prefiro jardins, a maçã sem pecado, a alegria, o amor, a dança, a liberdade, as fantasias, e muitas das virtudes que muitos “deuses” da Antiguidade representavam. Prefiro a redenção pelo conhecimento, a arte por prática diária e a paz por sobrevivência.
Felizes os que veem elfos!








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