SORORIDADE NA LITERATURA

 SORORIDADE NA LITERATURA

A primeira vez que obtive explicações sobre as diversas implicações da palavra “sóror”, eu era ainda uma menina no curso de Letras e estudávamos o conto de Edgar Alan Poe
“The Fall of the house of Usher”, A queda da casa de Usher, em tradução para o Português, inclusive tema de série de filme atual.
A palavra USHER não se trata apenas de um sobrenome de família. Usher significa “sóror”, originariamente em Inglês arcaico o título atribuído às esposas dos padres.
O que poucos sabem é que até o século IV e meados do Século V, os sacerdotes cristãos podiam se casar e suas esposas eram enaltecidas com o título de “sóror”. Não havia, inclusive, restrição a que uma mulher pudesse ser papisa. Naquela época, e por séculos antes, mulheres exerceram papel de destaque em várias sociedades, tendo sido faraós, imperatrizes, filósofas e até deusas!
Por meados dos anos 300 DC começaram as restrições contra o casamento no sacerdócio, mas foi somente no Primeiro Concílio de Latrão, em 1123, que o celibato foi instituído como uma disciplina obrigatória para todo o clero cristão do Ocidente. O Concílio de Trento 1545-1563 ratificou definitivamente o celibato como uma lei obrigatória a todos os clérigos da Igreja Latina Ocidental.
A razão mais racional para a proibição do casamento, além da imposição patriarcal deveu-se ao fato de que com o celibato os padres não teriam herdeiros e as respectivas heranças seriam então destinadas à Igreja.
Parte do pensamento patriarcal das religiões monoteístas confere um imenso rebaixamento da condição feminina, renegada ao papel de pecadora, bruxa, chegando ao ápice de serem queimadas em fogueiras sob a acusação de heresia ou bruxaria. A uma mulher inteligente este era o destino medieval.
Ao longo de tempo, as mulheres, então praticamente párias da sociedade, eram encaminhadas para a vida em monastérios, freiras por imposição. À mulher foi instituído o silenciamento, a exclusão social, preconceitos e perseguições.
Nos conventos, sóror era uma das etapas de hierarquização dentro da vida monástica, daí o termo passar a associar a significação de irmã e irmandade.
Atualmente, Sororidade ganha notoriedade como movimento de integração feminista em busca de voz, respeito e reconhecimento do valor da mulher.
Sororidade hoje implica numa luta de integridade do feminino, de resgate do papel da mulher historicamente banida. Sororidade agora é uma aliança de restituição e solidificação do valor da mulher, numa defesa coletiva de restituição de sua Voz.
Sob esse ponto de vista, o conto de Poe merece ser analisado sob outras óticas. Na literatura, Sororidade requer restituição do reconhecimento de autoras, filósofas, intelectuais condenadas secularmente como bruxas por sua inteligência. Em tempos atuais em que a mulher ainda luta contra perseguições, preconceitos, silenciamento, tratamento desigual, violência, Mulheres precisam falar de Mulheres, de ontem, de hoje e de amanhã.
Na literatura clássica há várias personagens a serem analisadas, mulheres que lutaram sozinhas contra sociedade patriarcal, como Medeia, Antígona, Anna Karenina, Lizzie, e tantas outras, entre personagens e autoras. Virgínia Wolf, Clarice Lispector. Uma lista infinita, a qual somam-se as mulheres que hoje fazem literatura e ecoam suas vozes com vigor para conscientizar a sociedade sobre o muito que é preciso fazer pela dignidade da MULHER.



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